sábado, 3 de novembro de 2012

12. É hora do rango

Eis a face de um sujeito feliz com seu jantar. A entrada, arenque com salada, já tinha sido traçada. O prato, embaralhado, é um coelho estufado com creme azedo. Assim estava no cardádio - em português!!! - do Taras Bulba (Rua Petrovka 30/7, perto do Mosteiro de São Pedro do Alto). Para acompanhar, dois chopes e duas doses de vodca. A foto é da garçonete ucraniana. A casa é típica de lá, da Ucrânia



Quando apontar é a melhor forma de fazer o pedido

Vi dezenas de recomendações culinárias na web. Coma isso, beba isso, peça aquilo. Mas aviso logo, não gosto de caviar, lamento. Provei uma vez e já era. Ah, mas é caviar russo! Ok, eu diria o mesmo da vodca para quem não gosta da bebida... é vodca russa! Empatou? Certamente, mesmo o caviar de que eu não gosto deve ser melhor que qualquer comida de avião. Melhor pular essa parte. É bom também esquecer o expresso que tomei no aeroporto em Roma. Paguei 3,40 euros por um brioche seco e um dedo e meio de café. A xícara vem quase vazia. É um gole de café mesmo. De volta à cozinha, obviamente, nunca dá para experimentar tudo que se recomenda, mas dei minhas pitadas. Ou goladas. Para o bem e para o mal. A primeira refeição russa foi meio confusa. Estava perto do Circo Nikulin, tinha comprado ingresso, e fui procurar um lugar próximo para comer. Guiado pela web, entrei no Lavash. Está lá no Wikitravel: cozinha da região do Cáucaso, preços razoáveis, menu com imagens, convenientemente localizado perto do circo Nikulin, a dois minutos do circo, na Tsvetnoy Boulevard. A parte boa é que achei o lugar. Mas não vi imagens no  cardápio em russo. Pouco entendi. Na hora do pedido, no parco inglês do garçom, só deu para compreender o que era carne e o que era peixe. O Cáucaso ficou distante. Pedi salada ceasar e carne. Boa salada, um filé honesto. A cerveja longneck estava quente, o que é lamentável para um carioca. O preço razoável: 1.200 rublos (uns R$ 85). O filé do Galeto da dona Ana, na carioca Rua de Santana, é melhor e mais barato. Mas a Santana, admitamos, está longe de ser a Tsvetnoy.

O filé caucasiano, quase sem foco
Cafezinho em Roma: "inho" mesmo

A salada do Taras Bulba


O coelho: isso é  antes de eu bagunçá-lo no prato, creia


Mu-Mu na Arbat: a vaca é o símbolo da rede; parece Cow Parade
A segunda refeição também foi um acaso da web. Estava na Arbat (uma famosa rua para compras), com fome, anoitecendo, chovia, e dei de cara com um restaurante da rede Mu-Mu. Qualquer guia e qualquer post na rede sobre gastronomia russa falam dele: é um lugar para economizar e para turistas que não querem se estressar com cardápios em cirílico. Você entra numa fila, como num bandejão, vai fazendo os pedidos (tem de tudo, ou quase), e no fim paga no caixa. Não é quilo, paga-se a porção de cada item escolhido.  As filas em geral  são grandes, o menu fica colado na parede, e no que eu fui tinha também em inglês. Mas não dá muito tempo para olhar a comida e ver a legenda na parede. Então, fui apontando. Na hora da sopa, o cara pergunta: carne ou champignon? Pedi carne. O caldo é um só; e ele pega a carne (ou o champignon) de outra panela e joga lá. A comida é mediana, mas a economia é garantida. Com chope, gastei R$ 478 rublos (uns R$ 35). E, apesar da mistureba que fiz, com sopa + crepe + linguiças + uma batata esquisita, foi satisfatório.

Minha mistureba no Mu-Mu
Foi depois dessa experiência que encontrei o Taras Bulba lá da foto no alto desse post. Todo mundo de roupas típicas da Ucrânia. Parece que há outras filiais por Moscou. Tinha até cardápio em português, o que considerei uma dádiva. Então, fui repetir a dose na noite seguinte. Mas de cara vi que nada seria como antes. Em vez da garçonte fotógrafa e que falava inglês, quem me atendeu foi a mãe dela! Uma ucraniana que só falava russo! E me garantiu que não havia cardápio em português na casa. Como assim? Depois de muito procurar, me arrumou um em espanhol. Cadê a velha simpatia ucraniana? Pedi tortillas de queso e salmón con especiarías. Mas o que veio não era tortilla nem em Buenos Aires nem em Moscou. Talvez na Ucrânia. Era igual a um pão ruim de cortar com faca, e um tanto sem gosto. Parecia comida de tempos de guerra. Dei-me mal. O salmão, para compensar, estava bom. Dos 1.470 rublos (R$ 105), uns 600 rublos foram de vodca e chopes. Ou seja, a conta podia ser menor. Pensando bem, podia não.
O salmão com especiarias do Taras Bulba
A tortilha que parecia pão duro: vodca e Stella para amaciar


Em São Petersburgo, foi mais cômodo para mim fazer as refeições no restaurante anexo ao hotel Pushka Inn. Pesaram a favor os 20% de desconto e o fato de o cardápio incluir pratos que eu queria provar. Então, lá comi frango à Kiev (460 rublos); sopa borsch, de carne e beterraba (280 rublos); estrogonofe com batatas coradas (720 rublos); creme de salmão norueguês e caviar (390 rublos); salmão com espinafre (590 rublos); sopa solyanka, receita ucraniana feita com pepinos e que pode ser de carne, peixe ou cogumelos (350 rublos). Entre as cervejas, a belga Blanche de Namur (280 rublos), a russa Nevskaya (160 rublos) e a tcheca Klaster Tmave, escura (200 rublos). Todos os valores sem o desconto (em média, no total da conta, dava uns 250 rublos de desconto; ou seja, uns R$ 20). A matemática é mais ou menos 14 rublos = 1 real.
Frango à Kiev no Pushka Inn: coxa empanada e recheada


Estrogonofe: bom e farto, mas nada fabuloso
Salmão: pedida sem erro. O creme de espinafre está embaixo
A solyanka com cerveja escura. No potinho, iogurte azedo para jogar na sopa
Sopa borsch, de beterraba, e cerva belga
Creme com salmão e caviar; a cerveja é russa


Nas andanças, houve outras experiências gastronômicas. Boas e más. Entre as boas, o blini (crepe) de salmão e os sorvetes. Entre as más, o cachorro-quente de rua caidinho que comi perto do Hermitage. Tanto em Moscou como em São Petersburgo há pequenos mercados e grandes (nem sempre na área turística). Em Moscou, havia um grande em frente ao hotel, e lá fiz um bocado de compras. Só foi estranho no dia em que tentei comprar vodca e vinho e a caixa disse que não poderia levar. Fiquei boiando. Não consegui entender, como sempre. Achei que era porque iria pagar no cartão de débito (VTM). Mas não descobri o motivo, pois comprei cerveja ali quase todo dia, sem problema. Como em qualquer lugar do mundo, os mercados ajudam o turista a economizar. Um exemplo está na primeira foto abaixo, com bolo de creme e morangos (30 rublos), vodca (105 rublos) e chocolate (26 rublos). Ou seja, uns R$ 12. Menos de R$ 3 o tablete de chocolate. E era bom, com amêndoas. A garrafinha é só de 250ml, mas custou R$ 7,50. Pois é, dá para ficar numa boa sem gastar muito. Uma dose no restaurante custa no mínimo 120 rublos. As cervejas também têm preços razoáveis no mercado. Quando há numeração no rótulo, como no caso das Bálticas (latas azul e vermelha), tem a ver com o teor alcoólico. Quanto maior, mais forte é a cerveja.

Produtos do mercado: bolo de creme e morangos (30 rublos), vodca 250ml (105 rublos) e chocolate (26 rublos)

Embalagem de sorvete. Comprei pela marca CCCP (URSS em russo). É de baunilha e chocolate e lembra um Eskibom

Sorvete Magnata, de palito: isso mesmo, ótimo
Cervejas do mercado: R$ 3 a R$ 6



Capuccino gigante e um tanto aguado (215 rublos) e ótimo strudel (205 rublos) na Névsky, diante da Igreja de Kazan

Blini, ou crepe, de salmão (140 rublos) e cerveja (60 rublos): lanche por menos de R$ 15

Close no cachorro-quente de rua: o refrigerante era horroroso também (100 rublos, o barato que não compensa)

Chopão no copo plástico no parque (100 rublos, R$ 7)

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