sábado, 17 de novembro de 2012

19. Moscou um pouco além da Praça Vermelha



A Catedral  do Cristo Salvador/Redentor, erguida em 1883, destruída por Stalin em 1931 e recontruída em 1997

Atrações de sobra, tempo de menos

Portal da Cristo Redentor
O tempo é curto para o turista que quer tudo numa viagem só, de poucos dias. Eu já sabia, claro. Moscou é imensa e é preciso optar pelas atrações. Não havia temporada de balés/óperas; o que, admito, não lamentei muito, apesar de quase todos considerarem heresia ir à Rússia e não ver o Bolshoi. Há casas-museus de sobra em Moscou. Perdi todas, mas lamentei principalmente não ter conseguido visitar a Casa de Maiakovski. Tolstoi, Scriabine (compositor), Lermontov (poeta) e Pushkin também tiveram suas casas ou apartamentos transformados em museus. Minha curiosidade ficou no papel mais uma vez no caso dos museus das marionetes e de matrioshkas. Perdi, perdi.
Num dos dias de chuva, desci no metrô Kropotinskaya e visitei a Catedral do Cristo Salvador (ou Redentor, como quiserem). Linda por dentro e por fora, com o Rio Moscou nos fundos. Ali perto, tinha visto no mapa, fica o Museu de Belas-Artes Pushkin, que, segundo os guias de viagem, guarda uma boa coleção de pintura (Picasso, Van Dyck, Botticelli, Chagall). Parecia fácil.
Cópia de David no Pushkin 1
Caminhando, cheguei a um grande prédio com cara de museu, entrada portentosa, bilheteria com o nome do escritor. Paguei o bilhete, 400 rublos (R$ 28), entrei e... cadê as telas citadas nos guias? Nada. Muita reprodução de peças cujos originais estão em Paris ou Londres. Eis o David, de Michelangelo, mas uma das cópias... Alguma coisa interessante, alguma coisa bonita, mas cadê? Pior, algo comum, já disse, em atrações russas. Pouca informação em inglês. Sequer atendentes que falassem algo parecido com o meu péssimo inglês. Cheguei a mostrar um desenho de uma tela e perguntar onde a acharia... A mulher fingiu ignorar. Depois de algum tempo rodando, descobri que as obras que queria ver estavam em outro museu, com quase o mesmo nome!!!, mas a alguns quarteirões pelo caminho que passara. Quando consegui achar o Museu Pushkin 2, fiquei pasmo. Tem uma entrada acanhadíssima! Quase não se nota. Paguei de novo 400 rublos e percorri três andares de um bonito museu, com obras de mestres e boa estrutura. No guia que eu levei só constava um Museu Pushkin.

Dois museus, dois bilhetes pagos. Não tem jeito, não consigo acertar a foto
Escadaria do Pushkin 1: museu vertical

A acanhada entrada do Museu Pushkin 2: bonito por dentro



Museus Pushkin para um lado e para o outro: diferença no detalhe
Pátio do Museu Pushkin 1, o maior deles. Eis ali o David
O pensativo amigo de Picasso está bem, com seu copão no Pushkin 2










Dostoiévski meio largado em frente à Biblioteca Lenin
Nele, pombos; ao fundo, mensagem da Samsung
A Biblioteca Lenin fica bem próxima do complexo da Praça Vermelha. Tem duas estações de metrô perto (Biblioteka Lenin e Borovtskaya). Cito aqui, mas só admirei o prédio por fora, numa pausa nas escadarias. Na frente há uma grande estátua de Dostoiévski entregue aos pombos. Para isso serve boa parte dos monumentos. Com pombos ou não, é uma bonita estátua. Com ou sem pombos, a genialidade de Dostoiévski não cabe nesses bronzes.
 
Traduzindo o bilhete: 27 de agosto, 19h, fileira 7, cadeira 30, um ingresso de mil rublos (R$ 71) para um lugar razoável

Sim, eu sei que a maioria do mundo ama bichos e concorda que os circos não devem ter animais, que certamente são chicoteados em seu adestramento. Eu não odeio bichos. E como essa ordem mundial ainda não chegou na Rússia, lá fui eu ver o domador botar a cabeça na boca do leão, os ursos virarem cambalhotas, o macaco andar de monociclo, o tigre deixar no pensamento a sua vontade de devorar alguém. O Circo Nikulin, supertradicional, fica na Tvestnoy Bulevard 13 (o metrô tem o nome da rua), diante de uma bonita pracinha. Na calçada em frente ao circo, uma estátua do fundador da trupe ao lado de um automóvel é a primeira atração, onde as crianças posam para fotos. No saguão, outra festa. Vende-se tudo de lúdico nas barracas: máscaras que piscam, espadas sonoras, brinquedos que voam, que assustam, que grudam, que refletem, que imitam... A gurizada fica hipnotizada com o assédio. Para os pais ficarem mais tontos (e mais duros) ainda, lá estão bichos para fotos com crianças. Cães, um tigre, um leão, um macaco. É só pagar e botar a criança lá para um foto rápida.


A arena do circo: a orquestra fica na parte de baixo do desenho. Acho que os melhores lugares são do outro lado
Na entrada, animais para fotos pagas: a molecada adora
 Depois, enfim, o espetáculo. Um circo por excelência. Nada mambembe como no filme do Selton Mello. Por outro lado, não chega a ser um Cirque du Soleil, que só vi em DVD. Acrobacias, muitas; um palhaço cativante (mesmo em russo) que consegue fazer a plateia participar (inclusive de um número engraçadíssimo, com três voluntários quase arrastados por ele); números com piruetas e trapalhadas; brincadeiras; e os bichos (com ou sem  chicotadas, ganham uma penca de guloseimas a cada pirueta), aplaudidos de pé pelo público. O domador cercado por 12 leões na arena... Merece aplausos também a orquestra, que ataca ao vivo os mais diferentes números e não deixa o espetáculo cair. Mais ameaçadores que os 12 leões eram as vigias do circo proibindo fotos. Um japa ao meu lado quase foi expulso de tanta bronca que levou a cada tentativa. Não sei se ele conseguiu fazer fotos. Eu não. Uma monitora do Enem (ou lá do antigo Pedro II) parou do meu lado durante boa parte da apresentação. Pior que os policiais no metrô, que parecem sempre estar de olho em quem tem uma câmera na mão. Em cada entrada (as partes cinzas do mapa da arena, no desenho acima) ficam duas vigias, de frente para o público, domando os fotógrafos. Só faltaram os chicotes.Paguei mil rublos, mas esse nem é o ingresso mais caro nem o mais barato. Na bilheteria tem esse plano do picadeiro e você pode escolher onde ficar. Pode-se comprar pela internet também, mas preferi deixar para comprar no dia, umas horas antes do show. Deve ser concorrido  nos fins de semana. Pela quantidade de orientais que se sentaram na fileira em que eu estava, concluí que o circo  vende muitos pacotes de ingressos para operadoras de turismo.
No intervalo, o picadeiro sendo preparado para os leões
Estátua do palhaço Nikulin em frente à sede do circo

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