terça-feira, 20 de novembro de 2012

22. до свидания!

Observações finais antes de fechar a arca



a) Antes da viagem, li que Moscou era repleta de gente bêbada pelas ruas. Uma amiga que morou lá disse que o metrô fede a vodca. Menos, menos. Não precisa ofender a ótima vodca. Vi bêbados, nenhum ameaçador, e não em cada esquina. Vi mais gente com flores do que bêbados, mesmo à noite. Mas muita gente bebe nas ruas, sem cerimônia. Nas entradas de metrô e perto de latas de lixo é comum encontrar garrafas vazias de cerveja, vodca e que-tais.

b) O aeroporto de São Petersburgo (Pulkovo) parece o Santos Dumont. Tem voos internacionais, mas é acanhado para tanto movimento, com filas imensas para embarcar.

c) Toda a programação estrangeira que vi na TV era dublada para o russo. Em alguns casos, uma dublagem muito esquisita. O ator americano fala a frase em inglês e a voz do dublador russo entra em seguida. Sabe a dublagem nas cerimônias do Oscar? Pois é. O ruim é que às vezes a dublagem da fala anterior se sobrepõe à fala em inglês de outro personagem na mesma cena. Bizarrice total.

d) A voltagem nas tomadas é de 220.

e) Há camelôs em algumas partes, principalmente em Moscou. Num fim de tarde, vi camelôs em fila perto do parque VDNKh. Vendiam desde artesanato a prestobarba. A maioria, principalmente no caso de artesanatos, era de senhoras. Mas quase ninguém com barraquinha. Todos pareciam preparados para sumir caso a polícia aparecesse.

f) Juro que não fiquei reparando nisso, mas notei que é boa a venda de calcinhas nas lojinhas nas passagens subterrâneas. Vi várias vezes mulheres observando os produtos nessas biroscas. Sempre tinha alguém em busca de calcinhas e sutiãs. Deve ser bem mais em conta que nas lojas no nível das ruas.

g) Acho que meu pai, citado lá no primeiro post, daria uma de suas sonoras gargalhadas ao saber dessa minha viagem. Um pouco de gozação, por eu até hoje ter inglês sofrível; um pouco de alegria, por eu ter encarado a aventura.

e) E aqui fecho minha simplória arca russa.  Sem o brilhantismo de Sokurov, óbvio; afinal, esses 22 capítulos não rendem nem um curta-metragem. Mas feliz por ter ido - e ter voltado, claro.
 

до свидания!!!

21. Está apertado? Soluções simples

Por que no Rio quase não há banheiros públicos?











Três cabines para o povo e uma da guardiã, bem à porta da Praça Vermelha







Simples, com apenas duas cabines, perto de uma estação de metrô em Petersburgo
No Rio, você vai num domingo de sol passear com as crianças na Lagoa Rodrigo de Freitas, toma uma água de coco no quiosque, a bexiga enche e... ferrou! Pega um metrô entupido, faz uma viagem horrorosa, desce numa estação grande, como a do Estácio, sente vontade de fazer xixi e... ferrou! A questão dos blocos de carnaval, creio, não tem solução. É um exército cheio de cerveja em lata na barriga. Não tem como dar vazão. Mas há outras situações em que um banheiro ajudaria muita gente no aperto. Em Moscou e em São Petersburgo, na hora do sufoco, é só procurar um pouco que você acha um banheiro público. Tem na Praça Vermelha, tem perto de boa parte dos metrôs, tem nos parques. Em alguns lugares, são como os banheiros químicos daqui (mas sem tanta química, pois tem sempre alguém tomando conta... e limpando!!!!). Aí é que o turista agradece. Não precisa sequer falar russo para entender quanto custa (em geral, 30 rublos ou R$ 2,40, às vezes um pouco mais, às vezes um pouco menos), aliviar-se e seguir o passeio. Nem precisa gastar mímica pedindo para usar banheiros de restaurantes. Perto da Praça Vermelha há várias cabines. No Parque das Artes (Moscou) e no complexo de Pedro e Paulo (SPB), são ônibus/banheiros. Entra por um lado, sai pelo outro, e tem um encanamento ligando tudo ao subsolo. Nossas autoridades nada ganham aliviando a vontade alheia de ir ao banheiro; isto é um fato!

Ônibus toalete dentro do complexo da Igreja de Pedro e Paulo, em SPB


Decorado e tudo, banheiro dentro do Parque das Artes, em Moscou. Esse nem "cobrador" tinha. Xixi e cocô grátis. O M é de man; a entrada feminina é do outro lado, para onde aquela dama apertada (no sentido do xixi, quem sabe)  se encaminha

20. Olha a máfia russa!!!

 Opa, acho que vou ser furtado!

Placa em Peterhof alerta os turistas incautos. Nem precisa traduzir
Todo turista é alvo em potencial de algum ladrão. Quando viajo lembro sempre as cenas iniciais de "Nove rainhas", clássico filme portenho sobre golpistas. Já visitei Buenos Aires umas tantas vezes e sempre correu tudo bem. Todo cuidado é pouco, mas ninguém viaja de férias para viver tão estressado quanto no trabalho. Isso acho eu. Já perdi cartão de crédito em Paris, e até hoje não sei se me bateram a carteira ou se deixei a dita cuja caída num restaurante. Voltei e não estava lá. O cartão foi cancelado etc e tal. Recebi outro dias depois na Espanha e a viagem foi ótima. Também já bateram minha bolsa, com máquina fotográfica e tudo, dentro de uma sapataria na Oitava Avenida em Nova York. Fiquei muito puto, pensando como um carioca pode vacilar assim. Pois é, talvez eu seja um mané. Mané ou não, tento me precaver, sem muito estresse. Não foi diferente na Rússia. Minha mulher, antes da viagem, nem pensou nas Sharapovas (se pensou, não disse), mas aconselhou, dedo em riste: cuidado com a máfia russa! Deve ser a mesma coisa que um russo rumo ao Rio ouvir da sua loura de olhos claros: cuidado com os traficantes! Ou será que ela diria: cuidado com a polícia carioca!? Ou, atualizada: não chegue perto dos cracudos! Talvez politizada: não vá a Brasília! São muitos cuidados. No Rio, em Moscou, em São Petersburgo e no resto do mundo... Em Lisboa tem avisos nos bondes para tomarmos cuidado com os batedores de carteira...
Moscou à noite: nem tão iluminada, nem tão escura quanto parece na foto
Do que vi, posso dizer que tanto Moscou quanto SPB são cidades seguras como qualquer outra metrópole que conheço. Com duplo sentido. Andei de noite, nem toda parte tem boa iluminação, nem todo lugar tem policiamento. Nos metrôs há muito. Em Moscou, principalmente, foi comum ver duplas de soldados parando e revistando gente nas saídas de metrô e também em parques públicos. A recomendação geral é que o turista na Rússia ande com o passaporte, pois a polícia pode pedir. Os hotéis dão um documento dizendo onde você está hospedado, quando chegou, quando sai, número do passaporte etc. Mas não garanto que isso baste em caso de revista. Li em sites que eles param turistas para tirar dinheiro. Opa!, já vi isso antes em algum lugar... Não me pararam, mas vi gente sendo parada, revistada e liberada em seguida, aparentemente sem pressão. Talvez seja questão de sorte. Ou azar.
Passagem sob a Tverskaya, em Moscou
Já disse antes, repito. Nas duas cidades, há grandes e largas avenidas, com muitas passagens subterrâneas. De dia, tem lojinhas funcionando nesses corredores. De noite, são iluminadas, mas vazias. Sempre que cruzei alguma à noite fiquei pensando que se fosse no Rio ninguém passaria ali. Sabe aquelas passagens subterrâneas do aterro que todos evitam em determinadas horas? O mergulhão da Praça Quinze também não me parece amistoso, nem de dia. Mas na Rússia sempre foi tranquilo.
Passagem na Tverskaya, em frente ao Sheraton











A lembrança da patroa falando da máfia russa me atormentou mesmo na primeira noite em São Petersburgo. Malas no hotel, banho tomado, saí em busca de um lugar para comer, depois de ter acordado supercedo e viajado de dia, sem almoço. Sexta-feira, 21h30m, se bem me lembro, encontro um restaurante indicado num guia, mas ele estava às moscas! Pensei: deve encher mais tarde, vou dar uma volta antes. E lá fui eu pela fabulosa Nevsky. Subi a avenida (no sentido contrário ao Hermitage) pela direita (lado da igreja de Kazan), olhei vitrines e outros restaurantes simpáticos; voltei pela outra calçada, entrei em algumas lojas de souvernirs... Numa esquina, vi um carro fazendo uma lambança no trânsito, quase entrar na rua, voltar e seguir pela Nevsky. Deduzi que o motorista estava meio perdido. No quarteirão mais à frente, na ampla calçada, eis que surge diante de mim um sujeito falando russo e fazendo perguntas. Não falo russo, disse eu, em russo. Ele, meio embriagado, meio esquisito, perguntou de onde eu era. Brasil. Ah, Brasil, repetiu ele, futebol, Brasil, futebol, ficou meio mímico, meio maluco, me cercando. E daí? Eu não conseguia entender que informação ele queria, se é que poderia dá-la. Ele me apontou o carro próximo ao meio-fio, o mesmo carro bacana que vira na cena anterior da barbeiragem. Estão perdidos, mas não posso ajudar sem falar russo nem ser da cidade, pensei. Mas sem querer dei corda. Ele me pediu com acenos que falasse com o motorista. Este me perguntou em inglês  de onde eu era, se eu falava russo ou inglês, eu já perto do carro com a porta do carona aberta. Brasil, dissemos eu e o camarada ao mesmo tempo, e ele emendou com a mímica, futebol, Brasil, futebol, braços abertos muito perto de mim. Opa, esse cara vai me roubar! Dei dois passos atrás, pedi prastite e me mandei pela Nevsky. Mas fiquei bolado. Para piorar, descobri que a avenida não bomba depois das 23h. Os restautantes que vira estavam fechados. Os trambiqueiros estragaram minha noite. Entrei num mercadinho, comprei cerveja, sanduíche, acepipes, e fui lanchar no hotel. Ainda verifiquei o bolso e a bolsa para me certificar de que nada tinha sumido. Não, nada sumira. Fiquei pensando se era um golpe comum, mas nada vi de anormal nas outras noites pela cidade. Circulei sem sobressaltos, mesmo depois de meia-noite em ruas nem tão bem iluminadas.


Sinal aberto, e STOP grafado para a passagem de pedestres ao virar à direita

Li que os russos dirigem como loucos. Não constatei isso. Como na maioria da Europa, o pedestre ameaça atravessar e o motorista freia. Em toda rua que cruzei foi assim. O trânsito às vezes é intenso, às vezes engarrafa. Mas não devo ter transitado na hora infernal, aquela em que você não passa a segunda marcha na Borges de Medeiros, na Ponte Rio-Niterói ou na Linha Amarela. Nas grandes avenidas, há duas faixas de pedestres; ou seja, mão e contramão para atravessar a rua. Em muitos cruzamentos há  sinais que abrem para pedestres e motoristas ao mesmo tempo. Aí vale novamente a lei da boa educação. Se há pedestre na faixa, é preciso parar. Um ou outro motorista desrepeita isso. No Brasil não se respeita nem o sinal vermelho... Aliás, não vi fiscalização com radares nas duas cidades.

sábado, 17 de novembro de 2012

19. Moscou um pouco além da Praça Vermelha



A Catedral  do Cristo Salvador/Redentor, erguida em 1883, destruída por Stalin em 1931 e recontruída em 1997

Atrações de sobra, tempo de menos

Portal da Cristo Redentor
O tempo é curto para o turista que quer tudo numa viagem só, de poucos dias. Eu já sabia, claro. Moscou é imensa e é preciso optar pelas atrações. Não havia temporada de balés/óperas; o que, admito, não lamentei muito, apesar de quase todos considerarem heresia ir à Rússia e não ver o Bolshoi. Há casas-museus de sobra em Moscou. Perdi todas, mas lamentei principalmente não ter conseguido visitar a Casa de Maiakovski. Tolstoi, Scriabine (compositor), Lermontov (poeta) e Pushkin também tiveram suas casas ou apartamentos transformados em museus. Minha curiosidade ficou no papel mais uma vez no caso dos museus das marionetes e de matrioshkas. Perdi, perdi.
Num dos dias de chuva, desci no metrô Kropotinskaya e visitei a Catedral do Cristo Salvador (ou Redentor, como quiserem). Linda por dentro e por fora, com o Rio Moscou nos fundos. Ali perto, tinha visto no mapa, fica o Museu de Belas-Artes Pushkin, que, segundo os guias de viagem, guarda uma boa coleção de pintura (Picasso, Van Dyck, Botticelli, Chagall). Parecia fácil.
Cópia de David no Pushkin 1
Caminhando, cheguei a um grande prédio com cara de museu, entrada portentosa, bilheteria com o nome do escritor. Paguei o bilhete, 400 rublos (R$ 28), entrei e... cadê as telas citadas nos guias? Nada. Muita reprodução de peças cujos originais estão em Paris ou Londres. Eis o David, de Michelangelo, mas uma das cópias... Alguma coisa interessante, alguma coisa bonita, mas cadê? Pior, algo comum, já disse, em atrações russas. Pouca informação em inglês. Sequer atendentes que falassem algo parecido com o meu péssimo inglês. Cheguei a mostrar um desenho de uma tela e perguntar onde a acharia... A mulher fingiu ignorar. Depois de algum tempo rodando, descobri que as obras que queria ver estavam em outro museu, com quase o mesmo nome!!!, mas a alguns quarteirões pelo caminho que passara. Quando consegui achar o Museu Pushkin 2, fiquei pasmo. Tem uma entrada acanhadíssima! Quase não se nota. Paguei de novo 400 rublos e percorri três andares de um bonito museu, com obras de mestres e boa estrutura. No guia que eu levei só constava um Museu Pushkin.

Dois museus, dois bilhetes pagos. Não tem jeito, não consigo acertar a foto
Escadaria do Pushkin 1: museu vertical

A acanhada entrada do Museu Pushkin 2: bonito por dentro



Museus Pushkin para um lado e para o outro: diferença no detalhe
Pátio do Museu Pushkin 1, o maior deles. Eis ali o David
O pensativo amigo de Picasso está bem, com seu copão no Pushkin 2










Dostoiévski meio largado em frente à Biblioteca Lenin
Nele, pombos; ao fundo, mensagem da Samsung
A Biblioteca Lenin fica bem próxima do complexo da Praça Vermelha. Tem duas estações de metrô perto (Biblioteka Lenin e Borovtskaya). Cito aqui, mas só admirei o prédio por fora, numa pausa nas escadarias. Na frente há uma grande estátua de Dostoiévski entregue aos pombos. Para isso serve boa parte dos monumentos. Com pombos ou não, é uma bonita estátua. Com ou sem pombos, a genialidade de Dostoiévski não cabe nesses bronzes.
 
Traduzindo o bilhete: 27 de agosto, 19h, fileira 7, cadeira 30, um ingresso de mil rublos (R$ 71) para um lugar razoável

Sim, eu sei que a maioria do mundo ama bichos e concorda que os circos não devem ter animais, que certamente são chicoteados em seu adestramento. Eu não odeio bichos. E como essa ordem mundial ainda não chegou na Rússia, lá fui eu ver o domador botar a cabeça na boca do leão, os ursos virarem cambalhotas, o macaco andar de monociclo, o tigre deixar no pensamento a sua vontade de devorar alguém. O Circo Nikulin, supertradicional, fica na Tvestnoy Bulevard 13 (o metrô tem o nome da rua), diante de uma bonita pracinha. Na calçada em frente ao circo, uma estátua do fundador da trupe ao lado de um automóvel é a primeira atração, onde as crianças posam para fotos. No saguão, outra festa. Vende-se tudo de lúdico nas barracas: máscaras que piscam, espadas sonoras, brinquedos que voam, que assustam, que grudam, que refletem, que imitam... A gurizada fica hipnotizada com o assédio. Para os pais ficarem mais tontos (e mais duros) ainda, lá estão bichos para fotos com crianças. Cães, um tigre, um leão, um macaco. É só pagar e botar a criança lá para um foto rápida.


A arena do circo: a orquestra fica na parte de baixo do desenho. Acho que os melhores lugares são do outro lado
Na entrada, animais para fotos pagas: a molecada adora
 Depois, enfim, o espetáculo. Um circo por excelência. Nada mambembe como no filme do Selton Mello. Por outro lado, não chega a ser um Cirque du Soleil, que só vi em DVD. Acrobacias, muitas; um palhaço cativante (mesmo em russo) que consegue fazer a plateia participar (inclusive de um número engraçadíssimo, com três voluntários quase arrastados por ele); números com piruetas e trapalhadas; brincadeiras; e os bichos (com ou sem  chicotadas, ganham uma penca de guloseimas a cada pirueta), aplaudidos de pé pelo público. O domador cercado por 12 leões na arena... Merece aplausos também a orquestra, que ataca ao vivo os mais diferentes números e não deixa o espetáculo cair. Mais ameaçadores que os 12 leões eram as vigias do circo proibindo fotos. Um japa ao meu lado quase foi expulso de tanta bronca que levou a cada tentativa. Não sei se ele conseguiu fazer fotos. Eu não. Uma monitora do Enem (ou lá do antigo Pedro II) parou do meu lado durante boa parte da apresentação. Pior que os policiais no metrô, que parecem sempre estar de olho em quem tem uma câmera na mão. Em cada entrada (as partes cinzas do mapa da arena, no desenho acima) ficam duas vigias, de frente para o público, domando os fotógrafos. Só faltaram os chicotes.Paguei mil rublos, mas esse nem é o ingresso mais caro nem o mais barato. Na bilheteria tem esse plano do picadeiro e você pode escolher onde ficar. Pode-se comprar pela internet também, mas preferi deixar para comprar no dia, umas horas antes do show. Deve ser concorrido  nos fins de semana. Pela quantidade de orientais que se sentaram na fileira em que eu estava, concluí que o circo  vende muitos pacotes de ingressos para operadoras de turismo.
No intervalo, o picadeiro sendo preparado para os leões
Estátua do palhaço Nikulin em frente à sede do circo

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

18. Matrioskas e demais lembrancinhas

Quanto custa? Se entender a resposta, ótimo


Barraca na feira Izamilovsky
O mapa do chamado Kremlin (fortaleza) de Izmailovsky
 A maior dificuldade na hora de comprar lembranças em Moscou e São Petersburgo é entender quanto custa o produto desejado. É raro nas feiras de artigos do gênero ter uma plaquinha que seja com os preços. É proposital, claro. Nos sites de viajantes, todos dizem que é preciso pechinchar. Mas nem sempre é fácil pechinchar em russo. Ou no inglês falado na Rússia. Isso atrapalha um pouco a pesquisa também, porque em toda barraca é preciso perguntar qual o preço.  Até onde percebi, uma coisa é certa: eles podem até cobrar conforme a cara do turista, mas o valor é quase sempre o mesmo na maioria dos lugares. Atraído por alguns posts que li, tirei uma manhã para comprar souvenirs em Izmailovsky. Para chegar lá, é só pegar o metrô da linha azul-escuro (3) até Partizanskaya (atenção, não é a estação Izmailovskaya). Ao sair da estação, virar à esquerda e caminhar uns 500 metros. Na entrada tinha uma velhinha sentada num banquinho e cobrando 5 rublos pelo ingresso. Dizem que o lugar bomba nos fins de semana, mas eu não tinha opção e fui numa terça-feira, com chuva.
Fachada lateral do centro de compras
As partes do complexo com restaurantes e outras atrações estavam fechadas. Só havia mesmo barracas enfileiradas. Mas depois de enfiar o pé em muitas poças de lama, tomar banho de água empoçada nos toldos e tentar em vão ver algo positivo na empreitada, tirei minha conclusão: Izmailovksy parece o camelódromo da Uruguaiana, só que antes da última tentativa de organização. Ou seja, uma feira de camelôs. Só que de produtos russos. Um vendedor chegou a me garantir que a cesta que comprei não era fabricada na China. Deu mais motivos para a desconfiança. Já que estava lá, comprei lá mesmo a maioria das lembranças.
Chuva e barracas bagunçadas: Izmailovsky
Tive a impressão, porém, que os preços eram similares aos cobrados nas lojinhas instaladas nas muitas passagens subterrâneas da cidade. Certamente as lojas da Rua Arbat, conhecido centro de compras em Moscou, cobram mais caro, mas se você não for um consumidor compulsivo e só for trazer poucos presentes, talvez seja mais proveitoso ficar mesmo pela área turística da cidade. Há o grandioso shopping Gum, mas lá é tudo beeeem mais caro mesmo. Ele tem uma penca de lojas de luxo. Vale um passeio rápido, principalmente se estiver chovendo. O shopping subterrâneo perto da Praça Vermelha, por sua vez, tem três andares e lojas variadas, é mais para quem procura roupas. Mas pelo pouco que reparei, o preço das roupas não chega a ser atrativo. Eletroeletrônicos, relógios e afins? Nem pensar. São tão caros quanto no Brasil. Há  camelôs em algumas partes, principalmente em Moscou. Num fim de tarde, formavam fila perto da estação VDNKh. Vendiam desde artesanato a Prestobarba. A maioria, principalmente no caso de artesanato, era de senhoras. Mas quase ninguém com barraquinha. Seguravam seus produtos nas mãos, e pareciam preparados para sumir caso a polícia aparecesse.  
Juro que não fiquei reparando nisso, mas notei que é boa a venda de calcinhas nas lojinhas nas passagens subterrâneas. Vi várias vezes mulheres observando os produtos nessas biroscas. Sempre tinha alguém. Deve valer a pena. Não, eu não comprei calcinhas.

Não parece a Uruguaiana? Ou uma feira livre?
Um trecho da simpática Rua Arbat, de pedestres e compras













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Chafariz e passarela no Gum. Abaixo, duas fotos do interior do shopping, inclusive a mesma passarela


Vitrine no Gum





Vitrine na Nevsky, em Petersburgo


Barracas perto da Praça Vermelha
Vinho e vodca locais: ambos elogiados

Lojinha de frutas perto de uma estação de metrô em SPB





17. Alguém me disse: leva Gelol


Я  люблю тебя



Essa ganha a vida posando para fotos em Peterhof. Não, não era espetacular
Se tivesse vocação para cantadas (mesmo baratas), poderia passar horas na Nevsky repetindo a frase básica que ficou na memória desde o curso de russo: Я  люблю тебя. Louras, morenas, alvas, altas, lindas, aprumadas, rubras, cobertas, insinuantes, singelas, bonecas, princesas, Sharapovas... As palavras podem ser montadas e recombinadas para descrever a mulher russa que passa. Em Moscou, não chegou a ser algo impressionante. Passaram lindas, passaram feias. Mas em São Petersburgo, principalmente na Nevsky e no metrô, é um desfile de musas. Como disse um amigo jornalista recém-chegado de lá: Vale a pena levar uma bisnaga de Gelol. É tanta mulé linda que o torcicolo é quase garantido!
Aqui e ao lado, decoração num...
...mesmo banheiro de restaurante em Moscou


Folheto distribuído na Nevsky: como em qualquer lugar do mundo

Я  люблю тебя (ou Iá liubliu tibiá). Assim se diz "eu te amo" em russo. Por inútil para mim, guardei a frase novamente na memória. Para ilustrar, esteja claro, trouxe um folheto que recebi em plena Nevsky. Desses semelhantes aos distribuídos na Sete de Setembro ou na argentina Calle Florida. Na Nossa Senhora de Copacabana, nem precisa folheto. Achei a Marineska da foto até recatada para o serviço que vende.

sábado, 10 de novembro de 2012

16. Dinheiro vem, dinheiro vai

 Gastando em rublos

Como é difícil comprar rublos no Rio, cheguei em Moscou somente com euros (em papel e no VTM). Decidi fazer o primeiro câmbio no aeroporto, caso precisasse de algum trocado. Mas não precisei de imediato. Já tinha o bilhete do Aeroexpress para a cidade, fui a pé para o hotel e dei a primeira gorjeta em euro mesmo. Só quando saí à noite usei meus primeiros rublos. Apesar de sempre desconfiar de câmbios em aeroportos, geralmente prejudiciais ao usuário, no fim da viagem constatei que foi lá que obtive uma das melhores cotações. 1 euro = 38,6 rublos.
Pagando contas com o VTM, o resultado foi 1 euro = 37,9 rublos.
Há dezenas de câmbios pelas principais ruas, mas preferi trocar em bancos com cara de bancos grandes. Num deles, a cotação chegou a 1 euro = 39,79 rublos.
Num dia, sem querer gastar meu parco russo, usei o cartão normal do Citibank. Sim, há várias filiais do Citi por lá. Basta entrar num banco com caixa eletrônico, pedir atendimento em inglês, apertar "cartão", depois pedir a função plus + crédito ou não correntista. É fácil, rápido, silencioso e sem estresse. Mas a cotação não tem nada de socialista, é a cara de qualquer banco obviamente capitalista: 1 euro = 37,2 rublos.
Lá tem alguma inflação, pois a cotação mudava um pouco a cada dia.


Frente de notas e algumas moedas

E o verso das notas de 100, 500 e 1.000

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

15. A desvantagem de estar adiante no tempo

E quando o tempo fecha, qual a saída?

O canhão do czar no Kremlin de torres douradas e molhadas: construída em 1586, a arma nunca foi usada
Eu bem disse que estar à frente do meu tempo nem sempre era algo positivo. Um dos fatores que mais bagunçaram a viagem foram as sete horas de fuso com relação ao Rio. Ficou complicado ajustar o sono para quem costuma dormir por volta de 1h da madrugada (ainda 18h em Moscou e em São Petersburgo). E tentar acordar 8h para aproveitar as cidades? Impossível! Mesmo sem noitadas em limusines e sem entornar litros de vodca, era comum dormir às 4h, 5h. E levantar 9h. Mas era dureza e obviamente foi cansativo. Afinal, os 20 anos já se foram faz tempo. Eu dava tchau para a família no Skype, dormia um pouco, acordava, dava oi... e no Brasil ainda era hora de ir para a cama. Que confuso horário!
A capa azul que eu preferia não ter tirado da mala. Mas foi útil
Os dias de chuva em Moscou e São Petersburgo também incomodaram um pouco. Claro, todo turista deve ter no programa alternativas para dias assim. Em Moscou há estações do metrô, museus, igrejas e até shoppings... SPB tem o Hermitage. No meu caso, porém, o principal contratempo foi ter que visitar o Kremlin de  capa plástica. A previsão era de chuva terça e quarta, o Kremlin fecha às quintas; e sexta era dia de mudar de cidade. Sem alternativa climática, lá fui eu visitar as atrações atrás das muralhas numa manhã de chuviscos. É tudo bonito, mas certamente ficaria mais bonito sem água caindo e nuvens pesadas.
Meus sapatos depois de um dia de chuva
Meus sapatos noutro dia mais chuvoso ainda
Os bilhetes para o Kremlin são vendidos em tendas perto dos Jardins de Alexandre. E só procurar uma fila e chegar lá. Há duas entradas, uma pela Torre Borovitskaya, próximo da Câmara das Armas; e outra pela Ponte Trinity, na muvuca da Praça Vermelha. Você pode pôr mochilas e bolsas num guarda-volume perto das bilheterias (50 rublos). Mas lá dentro também tem uma sala para deixar objetos e roupas, principalmente as molhadas de chuva, se for o caso.
Frente do ingresso para as catedrais e verso do outro, para a Câmara
Pode-se comprar ingresso só para o complexo de catedrais atrás dos muros vermelhos da praça (350 rublos, R$ 25). Outra opção é comprar a dobradinha (1.050 rublos, R$ 75) com entrada para a Câmara das Armas, com tesouros dos czares, do século XVI até quando a corte foi para São Petersburgo, por volta de 1711. O ingresso para a Câmara é vendido por horários, creio que tem um limite de visitantes por período. Dentro, há carruagens, roupas, armaduras... E vigias proibindo fotos. Nesse mesmo edifício tem uma sala com joias imperiais e soviéticas, chamada Fundo de Diamantes. Mas tem uns horários restritos, não está sempre aberta.  Quando cheguei nela estava fechada para visitação. Não esperei pelos diamantes. Eles são eternos, eu não. No pátio das catedrais ficam as igrejas de cúpulas superdouradas: a Catedral da Anunciação é a maior delas, a Catedral da Assunção e a Catedral do Arcanjo. Além delas, há o Campanário de Ivan, o Grande. Um campanário sem o sino que para ele foi forjado. O dito cujo pesa 200 toneladas e nunca subiu a torre. Quebrado, é point para fotos turísticas.



O sino era para ficar no alto da torre de Ivan, mas ele nunca chegou lá
A ponta do sino e o cortado Campanário de Ivan



A Catedral da Anunciação e suas cúpulas em forma de bulbo

Hora de ir embora do chuvoso Kremlin, pela Ponte Trinity
 
Menos, São Pedro, menos...
 Como quem está na chuva é para se molhar, caminhei muito nos dois dias de chuva em Moscou. O mais curioso foi notar que, enquanto eu me cobria com minha capa azul de camelô, boa parte dos russos e russas - crianças, jovens ou idosos - que por mim passavam não estava nem aí para a chuva fina e intermitente. Para eles, devia ser como se refrescar num chafariz no verão carioca. Claro, pensei, essa chuvinha é moleza para quem encara até 15 graus negativos e rios congelados no auge do inverno. Eta, povo impermeável!

Depois que São Pedro me atendeu, uma vista do Kremlin a partir do Rio Moscou